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Publicado em 09/11/20 às 10:05:00

Os rios que brotam do Cerrado - Parte I

Os rios que brotam do Cerrado - Parte I
Corredeiras do Córrego Perdizes, no coração do Cerrado - Foto André Monteiro

A partir da presente publicação passamos a apresentar, em partes, mais um artigo do professor Altair Sales Barbosa, Doutor em Antropologia pela Smithsonian Institution – Washington – DC, Pesquisador e Professor aposentado da PUC Goiás.
A importância desse artigo está na descrição que faz do papel das águas do Cerrado nas Bacias Hidrográficas brasileiras e sul-americanas, mostrando de maneira clara a importância do Bioma na hidrologia do continente.
André Monteiro

OS RIOS QUE BROTAM DO CERRADO - Altair Sales Barbosa

O Bioma Cerrado, que de forma mais adequada é denominado Sistema Biogeográfico do Cerrado e que ocupa desde a aurora do Cenozóico a parte central da América do Sul, recebe também o nome “berço das águas” ou “cumeeira” do continente, porque é distribuidor das águas que alimentam as grandes bacias hidrográficas sul-americanas.

Isto ocorre porque na área de abrangência do Cerrado encontram-se três grandes aquíferos, responsáveis pela formação e alimentação de grandes rios continentais. Um desses e mais conhecido é o Aquífero Guarani, associado ao arenito Botucatu e a outras formações areníticas mais antigas. Este aquífero é responsável pelas águas que alimentam a bacia hidrográfica do Paraná, além de abastecer alguns formadores que vertem para a bacia Amazônica. Os outros dois, são os Aquíferos Bambuí e Urucuia. O primeiro está associado às formações geológicas do Grupo Bambuí e o segundo, está associado à Formação arenítica Urucuia, que em muitos locais aparece sobreposta à Formação Bambuí e em certos pontos, é possível verificar até o contato entre os dois aquíferos, apesar de existir entre ambos, uma imensa diferença cronológica. Os Aquíferos Bambuí e Urucuia são responsáveis pela formação e alimentação dos rios que integram a bacia do São Francisco e as sub-bacias hidrográficas do Tocantins, Araguaia, além de outras tantas, situadas na abrangência do Cerrado.

Esses três grandes Aquíferos, armazenados nos lençóis artesianos, se intercalam na parte central dos chapadões do continente sulamericano, formando lagoas e olhos d’água, conhecidos como águas emendadas, que tomam a direção norte, sul, leste e oeste do continente. Esta direção está condicionada à estrutura geomorfológica que caracteriza cada espaço. Definindo e delimitando dessa forma as bacias e sub-bacias hidrográficas.

Dos planaltos do centro da América do Sul, brotam águas responsáveis pela grande alimentação do rio Amazonas, pela sua margem direita. Das entranhas dos arenitos de idades Mesozóicas, brota a grande maioria das águas da imponente bacia do Paraná, que verte para o sul do continente. Do alto da Serra da Canastra, juntando águas oriundas do arenito da Formação Urucuia e águas retidas nas galerias do calcáreo Bambuí de idade Proterozóica, correm em direção ao nordeste do Brasil, as águas do São Francisco.

Além dessas imponentes bacias hidrográficas de dimensões continentais, no cerrado ainda brotam águas que dão origem às bacias hidrográficas independentes de grande importância regional. Algumas são tão fenomenais que formam acidentes únicos. É o caso da bacia do Parnaíba que nasce na Chapada das Mangabeiras, alimentada com águas oriundas do arenito Urucuia, situado no cerrado do Jalapão, Estado do Tocantins. A bacia do rio Parnaíba, apesar das dimensões serem bem menores que as anteriores, está associada a um grande transporte de sedimentos, que são distribuídos por vasta área do litoral norte do Brasil. Esses sedimentos relacionados às oscilações das marés e aos ventos alísios, formam dunas, lagoas, os Lençóis Maranhenses, os Lençóis Piauienses, e se estendem até Jericoacoara no Ceará. No encontro com o oceano Atlântico, forma o Delta do Parnaíba, tão complexo e ao mesmo tempo impressionante, que está entre os maiores do Planeta.

Outro exemplo importante refere-se à sub-bacia do rio Gurgéia, situada no Cerrado Piauiense, responsável pela irrigação de uma vasta área e pela formação dos poços jorrantes. Águas que afloram com tanta pressão que atingem vários metros de altura.
[continua...]

 

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