Os rios que brotam do Cerrado - Parte II
Professor Altair Sales Barbosa, Doutor em Antropologia pela Smithsonian Institution – Washington – DC, Pesquisador e Professor aposentado da PUC Goiás.
OS AFLUENTES DO AMAZONAS
A bacia Amazônica é considerada a maior rede hidrográfica da Terra, para descrevê-la um observador, mesmo do espaço seria incapaz de avaliar sua complexidade em meio a ilhas, furos, paranás e igarapés.
A bacia hidrográfica do Amazonas tem sua gênese a partir de três importantes regimes. Águas de origem glacial, provenientes dos Andes, águas de origem pluvial que alimentam a bacia pela margem esquerda e nas áreas da nascente e águas tanto de origem pluvial como de lençóis profundos, que o alimentam pela margem direita. Na realidade, são estes rios da margem direita que contribuem com os maiores volumes de água na alimentação do Amazonas, como também são os responsáveis pela sua regularidade e pela sua perenização, já que as águas pluviais e glaciares, apesar de volumosas, possuem regimes irregulares.
Tomando a orientação de leste para oeste, um observador pode constatar quão extensos e volumosos são os afluentes da margem direita do rio Amazonas, que brotam no coração do cerrado e cujas vertentes, qual artérias interligadas, são bombeadas para irrigar e oxigenar o pai dos rios.
Tocantins ou Araguaia
As sub-bacias do Tocantins e Araguaia são tão complexas e extensas, que não se tem certeza de quem chega ao Amazonas ao sul de Marajó. Oficialmente é o Tocantins, mas é este que deságua no Araguaia e não o inverso. Porém a nomenclatura e a geomorfologia, pouco importam no momento. O importante a se ressaltar é a quantidade de água e sedimentos que estes rios levam até a foz do Amazonas, transformando esta num ecossistema extremamente complexo.
Quem é o Tocantins (um rio de vários nomes)
O rio Tocantins bem poderia ser chamado rio Uru, que nasce nos contrafortes da Serra Dourada e resolveu tomar rumo norte, enquanto que seus irmãos de nascentes tomaram rumo oeste em direção ao Araguaia ou rumo sul em direção ao Paranaíba.
Entre as pedras o Uru é Uruíta, no caminho dialogou com dona Ana e se formou Uruana, após tanto se encorpar tornou-se Uruaçu ou Uru-grande nos vocábulos do Tupi. Ou o Tocantins seria o rio das Almas, proveniente dos Pirineus, ou Maranhão, ou ainda o Paranã, que vem do longínquo lugar onde as águas se emendam? O fato é que o rio Tocantins é todos eles e muito mais. Inúmeros afluentes caudalosos o alimentam pela margem direita e pela margem esquerda. Os da margem direita, alguns tem suas nascentes emendadas com águas que correm em direção à bacia do São Francisco e até a bacia do Paraná, como é o caso das águas provenientes do Jalapão e as que nascem no município de Formosa, em Goiás.
O mesmo fenômeno acontece com os seus afluentes da margem esquerda, em relação aos da margem direita do Araguaia. São as reentrâncias do interflúvio formado pela Serra do Estrondo, que os separam.
Rio Araguaia
O rio Araguaia nasce em formações rochosas pertencentes à bacia geológica do Paraná, mas integra a bacia hidrográfica do Amazonas. Seu berço e seu curso superior é composto por águas retidas no Aquífero Guarani. No nascedouro deste rio, este aquífero se encontra nas Formações Baurú e Botucatu. No mesmo local nascem os rios Taquari e Aporé. O primeiro corre no sentido oeste, integrando a sub-bacia do rio Paraguai no Pantanal Mato-grossense. O segundo corre para sudeste, desaguando no Paranaíba, formador do Paraná.
O Araguaia segue sereno para o norte, recebendo a todo instante portentosos afluentes pela margem direita e pela margem esquerda. Alguns desses afluentes são tão extensos e complexos, que delimitam no tempo e no espaço, histórias próprias, como o rio das Mortes, cuja nascente brota das reentrâncias da Serra do Roncador, a pouca distancia, onde ao sul nascem os rios do Pantanal Norte, sub-bacia do Paraguai. No seu curso intermediário o Araguaia abraça a Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo. Na realidade trata-se de um grande território com rios próprios, lagos, e uma diversidade impressionante. Em meio a esta complexidade, segue o Araguaia, até encontrar o Tocantins ou vice-versa, como já foi dito.
Os Outros Caudalosos Afluentes do Amazonas
Nas proximidades da nascente do rio das Mortes, jorram das reentrâncias da Serra do Roncador os grandes formadores do Xingu. No local, também se situam as nascentes do caudaloso Teles Pires. Na borda oeste dessa Serra, surgem as águas do rio Arinos, que se unem com as do Juruena. Este, formado por uma complexa rede de nascentes originarias da borda norte da Chapada dos Parecis, cuja cobertura vegetal, se caracteriza pela presença do cerrado. Teles Pires, Arinos e Juruena se juntam para formar o Tapajós, que deságua no Amazonas na cidade de Santarém. Guaporé, Mamoré e Madeira, têm suas nascentes situadas nos limites oeste do Cerrado, desde a depressão relativa do Pantanal Matogrossense, até as águas provenientes das ilhas de cerrado, situadas nos longínquos planaltos de Alta Lídia, Serra dos Pakaás-Novos, de onde descambam águas do Jamarí que vão engrossar o já grandioso Ji-Paraná, que deságua no Madeira.
[continua...]