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Publicado em 17/03/21 às 10:25:00

Os rios do Cerrado e as consequências do desaparecimento - Parte IV

Os rios do Cerrado e as consequências do desaparecimento - Parte IV
Foto André Monteiro

Na quarta e última parte do artigo, o professor Altair Sales Barbosa faz uma análise das prováveis consequencias na sociedade humana - caso nada seja mudado no quadro atual, do desmatamento e do desaparecimento dos rios no bioma Cerrado.

Prof. Dr. Altair Sales Barbosa

Doutor em Antropologia / Arqueologia e Geociencias
Pesquisador do CNPq

(continuação)

Passado certo tempo, contado em alguns poucos anos, esta realidade experimentará um grave processo de modificação. A produtividade agrícola começará a diminuir assustadoramente, causando ondas de demissões nas empresas estabelecidas. Isto acontecerá porque a água dos lençóis subterrâneos não é mais suficiente para sustentar a produção no sistema de rotatividade de antes. Não há água para fazer funcionar os pivôs centrais. A atividade agrícola sobrevivente se restringirá à época da estação chuvosa. 
Os solos, outrora preparados intensivamente para os cultivos, serão ocupados em pequenas parcelas, deixando exposta uma grande superfície desnuda. Da mesma forma, as pastagens que sustentavam a pecuária encontrarão afetadas, provocando a redução paulatina do rebanho.

Esta situação começará a refletir de forma visível nos polos urbanos. Haverá racionamento de água, em função da diminuição da vazão dos rios, que por sua vez provocará a redução do nível dos reservatórios. O racionamento de energia elétrica também será imposto pelas mesmas causas. O desemprego e os serviços, antes mais.fartos e variados, afundarão numa crise sem precedentes. Este fato provocará o aumento de pessoas ociosas e vadias nas cidades, situação que criará enormes embaraços sociais desagradáveis. Há a intensificação da criminalidade de todas as espécies, desde pequenos furtos, saques, assaltos e assassinatos. A prostituição se generalizará, trazendo conseqüências consideráveis para a saúde pública, que se apresentará cada vez mais decadente.

Os serviços públicos, incluindo a educação, por falta de arrecadação e manutenção começarão a beirar o caos.  Depois de certo tempo contado em anos,  a ausência de água nos rios criará uma paisagem desoladora. Áreas outrora ocupadas pelas lavouras serão caracterizadas agora por formas vegetacionais rasteiras e exóticas, típicas de formações desérticas, com um ciclo vegetativo muito curto. Grande parte dos campos agrícolas abandonados, sem a cobertura vegetal necessária para fixar o solo, passará durante algumas épocas do ano a ser assolado por ventos e tempestades fortes, em extensões quilométricas, que .criarão uma atmosfera escura carregada de grãos finos de poeira, restos de adubos e outros produtos insalubres e nocivos à saúde. Será possível ainda avistar um ou outro ser humano vivente, utilizando água empoçada, provavelmente de chuvas e exercendo pequenas atividades de subsistência. Também será possível encontrar uma ou outra família desgarrada e solitária, sobrevivendo de restos que ainda poderão ser obtidos. Os mais bem situados economicamente migrarão para outras partes.

Os polos urbanos serão assolados por diversas epidemias, que provocarão índices alarmantes de mortalidade. A maioria da população sucumbirá, diante da miséria crescente.

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