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Publicado em 19/04/21 às 09:26:00

Saiba mais sobre o Cerrado - Parte III

Saiba mais sobre o Cerrado - Parte III
Foto André Monteiro

Aulas sobre o Cerrado, por um dos maiores pesquisadores do bioma do mundo.

Prof. Dr. Altair Sales Barbosa

Doutor em Antropologia / Arqueologia e Geociencias
Pesquisador do CNPq

Saiba mais sobre o Cerrado - Parte III

O Sistema Biogeográfico dos Cerrados pode ser subdividido em subsistemas específicos, caracterizados pela fisionomia e composição vegetal e animal, além de outros fatores, que apresentam a seguinte organização: Subsistema dos Campos, Subsistema do Cerradão, Subsistema das Matas, Subsistema das Matas Ciliares e Subsistemas das Veredas e Ambientes Alagadiços. Essa diversidade de ambiente é um fator muito importante para a diversificação faunística, permitindo a ocorrência de animais adaptados a ambientes secos e, também, a ambientes úmidos. Da mesma forma, propicia tanto a ocorrência de formas adaptadas a áreas ensolaradas e abertas, como favorece a ocorrência de formas umbrófilas. Esses fatores atribuem ao Sistema Biogeográfico um caráter singular, distinguindo-o pela diversidade de formas vegetais e animais.

Estudos de paleoecologia demonstram que os limites modernos do Sistema Biogeográfico dos Cerrados não coincidem com os limites que deveriam ostentar durante o Pleistoceno Superior e Holoceno Inicial. Estes extrapolavam muito os limites da área core que hoje ocupa os chapadões centrais do Brasil, prolongando-se na forma de “línguas” e enclaves por grande parte da Amazônia Sul Americana, alcançando áreas localizadas até mesmo ao norte do rio Amazonas. Os mesmos estudos demonstram que, a par das regressões que este Sistema sofreu em direção ao centro do Brasil, simultaneamente, a expansão da floresta úmida foi, apesar disto, o sistema sul-americano menos afetado pelas oscilações climáticas do Pleistoceno Superior. Da mesma forma, no que diz respeito às modificações na biomassa animal, foi um dos sistemas sul-americanos menos afetado. Vale dizer que a fauna que o caracteriza modernamente, representa, quando comparada com outros domínios continentais, quase 50% da biomassa animal que caracterizava durante o Pleistoceno Superior e fases iniciais do Holoceno. Esse fato, apesar das proporções, é significativo quando comparado com a extinção animal que afetou outras regiões do continente durante o Pleistoceno Superior e fases do Holoceno que, em alguns casos, atinge a proporção de 98%.

1.1 Os Subsistemas do Sistema Biogeográfico dos Cerrados

Como foi mencionado, o Sistema Biogeográfico dos Cerrados não pode ser tomado como uma unidade homogênea, pois ostenta em seu domínio uma série de ambientes diversificados entre si, pelo caráter fisionômico e pela composição vegetal e animal. Estes ambientes constituem os seus subsistemas. Sua compreensão é de fundamental importância para se entender o sistema como um todo e o caráter da biodiversidade que ostenta. Esse sistema biogeográfico é composto por seis subsistemas interatuantes.

O Subsistema dos Campos, que ocupa as partes mais elevadas do sistema, apresenta morfologia plana denominada, regionalmente, chapadões ou campinas. Há forte ventilação durante quase todo o ano e a temperatura, em geral, é mais baixa que nos demais subsistemas. A rede de drenagem é insignificante. Às vezes, aparecem pequenas lagoas, algumas perenes. A vegetação é arbustiva esparsa e há uma composição graminácea intensamente distribuída pela área. Durante o Pleistoceno Superior, possivelmente, esse Subsistema abrangia espaços geográficos maiores. Sua presença atual pode ser explicada por fatores estruturais do solo associados a microclimas especiais e ainda não totalmente refeitos da agressão climática do Pleistoceno Superior.

O Subsistema do Cerrado constitui a paisagem dominante do sistema. Ostenta um estrato gramíneo diferenciado do campo pela ocorrência de árvores de pequeno porte e aspecto tortuoso, o que se explica pela teoria do escleromorfismo oligotrópico. A rede de drenagem é boa e os solos são de baixa fertilidade natural, mas não são uniformes. Há formações de cerrado que ocorrem tanto em latossolos avermelhados como em solos arenosos, dos quais são exemplos o sudoeste de Goiás e o oeste da Bahia, respectivamente. Entre o Subsistema dos Campos e o Subsistema do Cerrado, há uma paisagem intermediária, designada, popularmente, campo sujo. Não se considera esta paisagem como um subsistema à parte, porque sua abrangência geográfica é pequena e, ecologicamente, mostra que as mesmas características dos dois subsistemas tendem, ora mais ora menos, para um ou para outro.

O Subsistema do Cerradão é, fisionomicamente, mais vigoroso que o Subsistema do Cerrado. As árvores atingem de 10 a 15 metros de altura e os solos demonstram maior fertilidade natural. Não há um estrato gramíneo forte como no cerrado e as árvores são mais encopadas. A rede de drenagem é bastante significativa. Antigamente, alguns botânicos classificavam esta paisagem como floresta xeromorfa, denominação que foi abandonada.

O Subsistema das Matas ocorre em manchas de solo de boa fertilidade natural que, às vezes, adquire a configuração de ilhas, meio a uma paisagem dominante de cerrado, conhecidas pelo nome de capões e podem formar áreas extensas, compactas e homogêneas, como era exemplo clássico do Mato Grosso de Goiás.

O Subsistema das Matas Ciliares ocorre nas cabeceiras dos pequenos córregos e rios acompanhando-os pelas suas margens em estreitas faixas. Essas faixas são muito variáveis quanto à configuração. Há locais em que se alargam em forma de bosque e outros onde praticamente desaparecem, como é o caso de algumas áreas do médio Tocantins.

No Subsistema das Veredas e Ambientes Alagadiços, as cabeceiras de alguns córregos e rios são, às vezes, caracterizados por ambientes alagadiços, decorrentes do afloramento do lençol de água ou ainda em virtude de características impermeabilizantes do solo. Neste locais, são muito freqüentes as veredas, que são paisagens nas quais predominam os coqueiros buriti e buritirana que, às vezes, se distribuem acompanhando os cursos d’água até a parte média de alguns rios formando uma paisagem muito bonita. Há um estrato inferior de gramíneas que se apresenta verde durante todo ano. Em alguns locais, o afloramento do lençol chega a formar verdadeiras lagoas, rodeadas por buritis Mauritia vinífera. Esta paisagem é mais freqüente do centro do Sistema em direção a norte e a leste. Quando se aproxima do pantanal matogrossense, sudoeste do sistema, as veredas tendem a desaparecer, ao passo que as áreas alagadas aumentam.
(continua...)

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