A Ocupação humana, parte integrante das aulas sobre o Cerrado, por um dos maiores pesquisadores do bioma do mundo.
Prof. Dr. Altair Sales Barbosa
Doutor em Antropologia / Arqueologia e Geociencias
Pesquisador do CNPq
Saiba mais sobre o Cerrado - Parte VII
OCUPAÇÃO HUMANA
Os Indígenas
Os Caçadores - Coletores
O registro da pré-história sul-americana demonstra intensa movimentação adotada por populações humanas nos sistemas andinos e pré-andinos, principalmente a partir de 12.000 anos A. P. (antes do presente). Essa movimentação coincide com mudanças ambientais maiores de cunho continental, com matizes localizadas, responsáveis por entropias nos sistemas físicos e culturais até então estruturados e por flutuações no espaço por parte desses sistemas, culminando com a redução de áreas com savanas e início de desertificação em certos setores, fatos que acentuam o processo de redução faunística, principalmente a fauna de gigantes na parte centro-norte ocidental do continente.
Parece claro que essas movimentações humanas estejam relacionadas com modificações de ordem ambiental, mesmo que essas sejam mediatizadas pela cultura. Os sistemas culturais são, de certa forma, desestruturados, e as populações são impulsionadas a buscarem novas formas de planejamento ambiental/social e novas alternativas de sobrevivência. Nesse contexto, as áreas abertas, representadas especialmente pelos cerrados ainda existentes em manchas significativas nos baixos chapadões da Amazônia, devem ter exercido papel fundamental no favorecimento de novas expectativas de sobrevivência e novos arranjos culturais, desencadeando os processos iniciais de colonização das áreas interioranas do continente.
Essa colonização dá-se preferencialmente em áreas de formações abertas. O início acontece de forma acanhada, mas algum tempo depois, já é possível constatar a formação de um horizonte cultural fortemente adaptado às novas condições ambientais, principalmente quando se aproxima da grande área das formações abertas, existente nos chapadões centrais brasileiro, cujas características físicas e biológicas mantêm-se com alteração pouco significativa quando comparada com modificações que afetaram outros biomas continentais durante o Pleistoceno Superior e fases iniciais do Holoceno.
Os estudos sobre a indústria lítica que compõe esse grande horizonte cultural que se forma nos cerrados, quando comparados com outros sobre as indústrias líticas do continente, situadas mais a oeste e mais recuadas temporalmente, parecem demonstrar que alguns traços tecnológicos são mantidos, porém aperfeiçoados de forma sui generis , originando uma indústria também bastante singular e assustadoramente homogênea. Processo quase que similar ocorre com relação à economia de subsistência.
O estudo de algumas áreas cujos vestígios estão preservados demonstra, quando comparadas às áreas do oeste, uma tendência crescente à generalização que, em pouco tempo, difunde-se como sistema econômico básico.
De onde vieram esses povoadores iniciais é um problema para o qual ainda não se tem muita clareza, mas algumas áreas do oeste merecem mais atenção que outras, porque podem ter funcionado como centros dispersores. O estudo comparativo de variáveis bem definidas inevitavelmente conduzirá a algumas respostas.
Nesse sentido, o horizonte cultural que se formou nas savanas e formações xerófilas, na área andina, representado principalmente pelas áreas nucleares de El Abra e Ayacucho, cujas explorações das formações abertas já apontam elementos muito significativos, devem converter-se num ponto de investigação inicial.
Entre 12.000 e 11.000 anos A. P., dois sistemas ocupacionais bem definidos já estão definitivamente implantados no interior do continente. Trata-se da Área Nuclear do Vale do Guaporé, nas quebradas do planalto brasileiro, cuja cobertura vegetal é caracterizada pelos cerrados, e a região das Coxilhas Gaúchas, cujas ocupações se relacionam com as ocupações das Estepes Patagônicas, formando com esta um horizonte cultural descontínuo.
(continua)